sábado, 17 de março de 2007

"Eu criei Sigur Rós. Até que me deleitei com a genialidade com que me ultrapassaram" Deus.


Génios. Sigur Rós de seu nome. Aqui dos céus, desejo falar-vos, ainda atordido com a melodia deles, que me invadiu as células.


Fumo um cigarro. Crio outra nuvem no céu. E deixo-me falar para mim mesmo.


Quiseram criar momentos musicais impressionistas, capturando a essência de um local que, também graças a eles, ganhou contornos quase místicos.

Da Islândia, europeia mas ao mesmo tempo tão distante e desconhecida, os Sigur Rós fizeram-se notar com a sucessiva edição de álbuns com surpreendentes efeitos. Descobria-se um encontro entre diferentes sonoridades cujos resultados são, até hoje, inquestionáveis. Se, por um lado, os Sigur Rós são capazes de sensibilidade viciante, por outro, levam-na ao encontro de uma estética sinfonista que, procurando momentos épicos, não se deixa perder por exageros inconsequentes e megalómanos.


O mais recente resultado desta experiência é o álbum Takk (que significa "obrigado"), o regresso dos Sigur Rós a momentos de claridade musical, o antónimo do disco anterior, ( ), mais denso e opressivo. Entre o gelo nórdico e os vulcões que abundam pela paisagem, vêem a sua inspiração. Traduzindo, entre frieza minimal e sinfónica e o calor de uma interpretação dramática e emocional.


Tudo isto traduzido em quatro álbuns de originais e algumas edições paralelas, registos que se completam e, ao mesmo tempo, marcam transformações sucessivas. O grupo formou-se, em 1994, com Jon (Jonsi) Thor Birgisson, Georg Holm e Agust Gunnarsson, adoptando o nome da irmã de Jonsi, Sigurrós, nascida no mesmo dia. Von (1997) foi o primeiro álbum editado, assumindo uma estética pós-rock mas esboçando já outros destinos (Von teve como complemento um disco de remisturas, em 1998, conhecido como Recycle Bin. Seguiu--se Agaetys Byrjun, para muitos a obra-prima dos Sigur Rós, através de melodias irrepetíveis e uma musicalidade intensa. Para este segundo registo, a banda contou já com Kjartan Sveinsson nas teclas, e o baterista Agust seria substituído por Orri Pall Dyrason.Entre os álbuns ( ) (2002) e Takk, os Sigur Rós passaram ainda pela experiência que foi Ba Ba Ti Ki Di Do, um EP que reuniu os três temas que a banda compôs para o suporte musical de uma peça de bailado de Merce Cunningham (na qual participaram também os Radiohead). Depois de um álbum - ( ) - em que a luz que lhes conhecemos noutras ocasiões se escondeu (um álbum que orientou muitos a especular mais sobre os títulos do álbum e das canções e a descurar concentração na música que se apresentava), os Sigur Rós criaram Takk, um hino à emoção registada em Agaetys Byrjun mas escrevendo novos apontamentos noutras direcções. Sobretudo naquilo que os Sigur Rós vêem como o "seu" rock.


Takk mostra todo o sentido épico que sempre caracterizou os Sigur Rós. Glosoli, primeiro single, é um exemplo paradigmático, mostrando uma construção melódica em contínuo crescimento, partindo de um retrato sereno e terminando num êxtase sonoro (brilhantemente capturado num teledisco com a marca já inconfundível da banda islandesa). Os céus voltam a receber os Sigur Rós.


Se nunca ouviste um tema, se não tens um Cd que seja, podes ter a certeza absoluta que um dia, jamais perdoarás a ti mesmo essa falácia.