
Não existem fantasmas, existe futebol de verdade. Humano, fora do campo.
Feito de máquinas, dentro dele. Pela inteligêncida dele. Falo do meu súbdito, José Mourinho. Sim, aqui do céu azul, vibro com aquele homem.
Stamford Bridge não é Anfield ou Old Trafford. Falta-lhe o peso histórico daquelas catedrais. O mesmo peso que tenho para os humanos.
Não tem à porta estátuas de mitos do passado, e mesmo os ténues sinais de outras eras foram engolidos pela babilónia dos tempos modernos, o Chelskie de Abramovich.
Dois mundos, duas épocas que se confundem tal como a Chelsea Village -hotel, restaurantes, condomínio e healht club- sufoca o bairro elitista. No meio, um Estádio de futebol que combina camarotes modernos com velhas bancadas de imprensa em madeira.
E uma equipa de futebol. O desporto rei do povo que criei.
Em campo, nunca mexe um nervo da face. Quando os jogadores olham para o banco e vêem o seu líder impassível, quase como se tivesse escrito um pacto sobrenatural com o destino, sentem que já ganharam o jogo mesmo que então o estejam a perder. É uma coisa que não se explica, sente-se. E o futebol, sobretudo os jogadores em campo, vivem muito de sentimentos.
(Eles pedem-me sempre que entram nas 4 linhas, para os proteger, os fazer ganhar, ou não os lesionar. Se assim fosse, e eu ligasse aos seus pedidos, o futebol dava sempre em empate.)
Os jogadores vivem de emoções. Sentir confiança ou medo. Serenidade ou nervosismo. O Chelsea do meu filho Mourinho, é um bloco de gelo. Para o bem e para o mal. Para o bem do seu sucesso desportivo, num tempo em que o futebol caiu no fosso da táctica como poção mágica da vitória. Para o mal dos amantes de outro futebol, aquele que nos faz levantar das cadeiras quando os jogadores pegam na bola.
Todo este mundo começa, porém, fora do relvado. Nesse outro espaço, onde também se joga, o reino dos blues é outro, moldado pela cultura do futebol inglês. Dia de jogo na Champions, tensão no ar. Passo o dia no interior do Estádio, entre o relvado, os corredores dos balneários e a sala de imprensa. Não é preciso muito tempo para perceber que essa tensão está mesmo é dentro de nós. O staff do Chelsea é invisível. A meio da tarde, nos mesmos espaços, os jogadores passeiam como todos fizéssemos parte do mundo. E fazemos, de facto. Lampard procura algo para lanchar, Makelele pisca o olho, sorri, trocam-se palavras, passa Mourinho, brinca, diz que não, não estou nada mais magro, conversa circunstancial mas respirando futebol. Nesses instantes percebe-se onde podem começar-se a ganhar os jogos. Não existem fantasmas, existe futebol de verdade. Humano, fora do campo. Feito de máquinas, dentro dele. Não há espaço para receios. Duvido que nos hipods ouçam o som dos Clash ou dos Sex Pistols, pais do punk que nos anos 70 nasceu nas mesmas ruas, mas há um carácter para um império.Se, depois, em campo, todo este elo ameaça partir-se, emerge Drogba.
Quando o jogo pára, chega a ir ter, um por um, com todos os jogadores e transmite-lhes garra, com gritos e gestos. Todos? Bem, quase todos. Há outro que, entretanto já pegou na bola, para, mesmo com o jogo parado, continuar a controlá-lo: Lampard. São os gigantes do futebol moderno.
Post Scriptum Deus: E eu, da televisão divina, vou-me regalando com uns toquezinhos na bola ali dos comandados do meu Mourinho. Sou um pé esquerdo fatal. Da última vez que jogamos contra o Inferno, eu, Deus dos Deuses, fiz 3 golos, com 2 assistências do São Pedro e uma da Madre Teresa de Calcutá... e la foram eles derrotados. A bola, para mim, não tem segredos. Eu é que os tenho para ti.