quarta-feira, 18 de abril de 2007

Deus não é adepto do Benfica?

Não bastou um Mestre com a minha mão, a mão de Deus.
O Benfica contra os seus próprios limites... divinos. É o que eu vejo daqui do céu.
Nas suas recentes lutas, mais do que contra adversários, o Benfica jogou contra os seus próprios limites -tácticos, técnicos e físicos. Eu sei disso. Sou Deus.

O Benfica entrou quase a perder nos últimos quatro jogos. Forçou. Desafiou o destino. Ganharam os limites. E as bolas no poste...
Na tribuna do novo Estádio da Luz, Eriksson e Toni assistem, com fleuma, ao duelo do Benfica com o sonho de voltar à final da Taça UEFA. Há 24 anos, quando isso aconteceu, ainda na velha Luz, também estavam sentados lado a lado, mas então junto ao relvado, no banco. Em ambos os casos, o Benfica desafiou os seus próprios limites.

Como equipa e como capacidade de furar na elite internacional.

Vasculho arquivos divinos e encontro a primeira entrevista de Eriksson a chegar a Portugal, então técnico revelação de 34 anos vindo de Gotemburgo. Diz-se admirador do futebol inglês. Com isso queria referir-se à sua força atlética e mental. Mas acrescenta que “longe de mim querer mudar a essência do futebol português, dos melhores da Europa tecnicamente”. O que pretendia então? Simples: Moldá-lo pelo chamado triângulo da vida no futebol: Táctica, técnica e condição atlética. Lapidar. Não existe, claro, comparação entre essas duas equipas. Na de 83, com Humberto, Carlos Manuel, Nené, Diamantino e os estrangeiros Stromberg e Filipovic, o grande salto estive na capacidade física e na mentalidade competitiva. As equipas portuguesas cresceram muito desde então nesse aspecto. Hoje temos outro futebol português, capaz de unir aquele triângulo em campo. Mas continua, na busca por essa trilogia, com os seus limites.


Nos últimos quatro jogos, o Benfica entrou neles a perder. Espanhol, fora, FC Porto e Beira-Mar, para a Liga, e de novo, Espanhol, em casa, fruto do resultado da primeira mão. É diferente mexer numa equipa para ganhar um jogo quando se está a perder do que quando se está em igualdade. Os seus limites tornam-se mais evidentes. O treinador pensa em tácticas, em novas dinâmicas, mas tudo passa pela capacidade de dar intensidade àquele triângulo da vida do futebol dentro do relvado. É preciso que mais do que a equipa esperar que o jogo venha ter com ela, isto é, crescer com o seu aumento de ritmo, seja, ao invés, ela própria a ir ter como o jogo e fazer crescer esse mesmo ritmo através da sua capacidade táctica, técnica e física. Não é fácil. Sobretudo quando os seus limites já começam a surgir à flor da pele. Pressente-se, a cada imagem, a ansiedade de Fernando Santos. Rui Costa começa com calma. Cabeça levantada e passes de mestre. Vai passando o tempo, o esforço estampa-se no rosto e no corpo. Meias em baixo, o suor escorrendo, os olhos escurecendo. Resvala em discussões, esbraceja. Os limites ganham terreno decisivo. Há dias, falando sobre essa epopeia de como ganhar jogos que se estão a perder, Marcelo Lippi dizia que “o segredo é agarrar o momento em que mais se sente essa possibilidade de ganhar”. São então decisivos os jogadores que conseguem expor as fraquezas do adversário. No Benfica, nessas recentes lutas, mais do que contra adversários, contra os seus próprios limites, Simão vive noutra dimensão. A bola vai ter com ele e a equipa até voa. Perfeito controlo, personalidade, velocidade, passe. Esta semana, como há mais de duas décadas, então contra o poderoso Anderlecht, o Benfica, sentiu em campo o momento em que podia ganhar. Forçou. Desafiou os seus limites. Tácticos, técnicos e físicos. Ganharam os limites. E as bolas no poste…

Deus disse, o homem reflecte, os resultados renascem...